Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, a minha irmã e meu irmão… – Um caso de parricídio no século XIX

O título diz tudo e será redundante procurar explicações para que o meu olhar resvalasse para este livro por entre tantos outros.
Mas é sempre possível encontrar mais umas quantas. I’m a history buff, poderei argumentar conduzida pela descrição do próprio in fólio que se apresenta como um documento histórico sobre a realidade camponesa da França do século XIX através de um olhar atento a um processo judicial. O caso verídico de um parricídio cometido por Pierre Rivière que mata a sua mãe grávida de 7 meses, a sua irmã e irmão mais novos a golpes de podão. Boa, poderia argumentar, conheçamos pelas mãos dos próprios a justiça do país que deu ao mundo os ideais fraternos.
Outra possibilidade encontra-se nos corredores da mente. A minha indisfarçável paixão por Psiquiatria resvala sempre para ter uma fixação por assassinos em série, matricidas, parricidas, infanticidas, canibalismo, enfim todo o manancial de violência extrema a que a mente humana se pode entregar que desde sempre me fascinaram e que actualmente norteiam as minhas escolhas.
Pois bem, o livro oferece tudo isto e mais ainda. Uma análise sociológica do contexto político e mais interessante ainda a análise daqueles que foram os primeiros passos que a medicina psiquiátrica e a justiça deram lado a lado numa tentativa de julgar justamente todos os casos que a opinião pública se limitaria a condenar à pena máxima.
Mas, e esta interjeição é inevitável, até que se atinja estes ponto será necessário percorrer todo o processo judicial, ou seja, os testemunhos, os relatos, as acusações, os pedidos, a sentença, tudo exaustivamente. A burocracia era tão aborrecida no séc. XIX como agora.
Há três coisas que são necessárias para se ler este livro: ser-se um history buff, ter uma paixão por psiquiatria e ter carradas de paciência.
Eu respondo a estes três requisitos e mesmo assim a tarefa de leitura é temporalmente extensa, dois anos civis completados entre as primeiras linhas lidas até ao ritual da retirada do marcador de página. E eu leio compulsivamente.

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